top of page
LIVRO EM FORMATO DIGITAL

Publicado 2017

PayPal ButtonPayPal Button

“Onde existe fumaça, sempre existe o fogo... Onde existe o fogo existe a Vida!”

Era Inverno e o frio cortante não cessava de enviar a sua mensagem de que tempos difíceis viriam pela frente, os dias que seguiriam seriam dos mais rigorosos que o lenhador já havia passado em toda a sua vida. Com a paciência que lhe era inerente levantava-se todas as manhãs sem pressa de começar o dia, sabendo que cada minuto contava. Olhou de soslaio para o cão perdigueiro que sempre o acompanhava e era a companhia habitual, ensejou-lhe um afago que logo em seguida foi correspondido com uma lambida úmida e quente na costa da mão. Pôs o casaco de pele pesado e quente ao mesmo tempo em que se aproximava do grande machado que estava em seu poder há mais tempo do que podia lembrar.

Abriu a porta lentamente deixando uma lufada de ar frio lhe preencher os pulmões, não desgostava da sensação, mas também sabia o quanto era perigoso naquele ambiente inóspito a exposição repentina ou contínua ao frio glacial do lugar que chamava de casa. Percorreu um pouco da mata que rodeava a propriedade e fez uso da ferramenta que tinha sido sua companheira desde sempre, separou algumas achas de lenha e posicionou-as para o corte metódico e preciso que as repartia ao meio, vez após vez, até que ficassem do tamanho desejado. O amigo fiel de quatro patas apenas observava a rotina diária do amigo lenhador. Satisfeito com o resultado, deixou que a pesada e afiada arma de guerra milenar repousasse do trabalho exercido e caminhou para o conforto do que poderia chamar de Castelo, afinal, toda a casa é um imenso Castelo para seu morador.

Agachou-se na lareira de canto que o mantinha aquecido e vivo todas as noites, passou levemente a mão para sentir se o braseiro do dia anterior tinha deixado vestígios, mas isso não era possível, estava inegavelmente apagado. Retirou com a força das mãos algumas cascas secas das achas de lenha que havia trazido e posicionou-as de modo a que ficassem por baixo das grandes peças de madeira que lhe forneceriam o calor necessário para sobreviver, riscou um fósforo e sentiu a chama da vida nas mãos como se fosse o próprio Criador e com a habilidade de quem já tinha feito isso inúmeras vezes acendeu o lume brando que em tão pouco tempo consumiria toda a madeira seca. Recostou-se na cadeira e acendeu o cachimbo, o perdigueiro lhe fez companhia em silêncio, era tudo o que queria e que precisava.

Pela chaminé da casa a fumaça branca e aromática exalava um perfume que percorria quilômetros entre as árvores e subia as montanhas à procura de quem precisasse de um guia quase invisível para encontrar o próprio destino, sem a chaminé para levar os mais diferentes odores aromáticos pelos lugares mais recônditos da Terra, seria quase impossível apreciar com tanta voracidade as delícias que o fogo em toda a sua plenitude poderia nos fornecer de prazer tanto pelo olfato como por paladar. Gosto de chaminés... Passa-me uma mensagem singular e acolhedora de que, como em volta de uma fogueira, ali haverá tempos de paz e confraternização.

Um pouco acima da montanha a peregrina sentia o aroma do Eucalipto, sabia disso, pois do lugar de onde vinha adorava poder ver o Sol por entre os ramos e sempre que podia raspava um pouco da casca verde para esfregar nas mãos, por vezes o fazia também pelo corpo, acreditava que em algum momento poderia fazer parte daquela imponente natureza. Não demorou em que encontrasse a cabana do lenhador, agachou-se alerta tentando escutar que ruídos poderiam vir do interior, mas nada pode ouvir. Seria possível que estivesse vazia? Lá por estar com a chaminé vertendo a fumaça não quer dizer que esteja alguém lá no momento... Franziu a testa levemente.

bottom of page