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Actuna de Toris

Capítulo I

 

Invasão

 

O planeta Terra está situado numa posição favorável para a vida complexa ainda que pareça apenas um pequeno ponto luminoso na vastidão do universo, mas não se sabe ao certo quantos iguais a ele existem, em todo o caso, pode ser único em suas características e a razão para os invasores tentarem se apropriar daquilo que restou do planeta azul, o terceiro a partir do Sol amarelo.

 

Os extraterrestres o chamam de Actuna, aquele que orbita em torno de Toris a estrela amarela no Sistema Solar de Ondenbar, mas só saberíamos disso muito mais tarde quando resolvemos revidar o ataque sofrido e que quase exterminou toda a população terrestre. Mas não seria só mais uma guerra contra os invasores, seria a batalha para reconquistar a Terra e devolvê-la aos seus filhos legítimos.

 

Na manhã do dia cinco de Maio de 2020 Riley O’Connor permanecia deitada em sua cama no quarto do andar superior, muito jovem, dezesseis anos, cabelos castanhos e longos presos nas laterais do rosto, olhos bem azuis e supunha que media mais ou menos 1,70m de altura com peso proporcional. Adorava o quarto em que passava a maior parte do tempo quando não estava estudando na escola preparatória ou conversando com as amigas. Gostava da vida que tinha e de tudo o que representava, esperava que perdurasse pelo maior tempo possível.

 

As paredes cor de rosa do quarto tinham sido ideia sua e inspiravam um ar muito feminino e aconchegante, os móveis ela mesma tinha pintado na cor branca e decorado com algumas flores sortidas usando a tinta que sempre sobrava do trabalho de artes que fazia duas vezes por semana. Para isso teve ajuda da mãe.

 

Era filha única e além dela apenas os pais Brian e Nora O’Connor viviam na casa, com exceção de Rex claro, seu cão labrador que a acompanhava para onde quer que fosse, menos durante as aulas já que não era permitida a entrada de qualquer tipo de animal no recinto acadêmico. Vez ou outra conseguia driblar essa proibição, mas considerou que era melhor não arriscar em demasia ou se meteria em confusão e não era isso que desejava naquele momento.

 

Por outro lado, sentia que sua sorte poderia mudar em relação a Chris Raines que seu vizinho do outro lado da rua e desde que eram bem pequenos brincavam juntos, o que não acontecia já há alguns anos, para sua decepção. Tinham se distanciado por conta da idade próxima e objetivos diferentes e ainda que estudassem no mesmo lugar não se encontravam com frequência, mas gostava dele, sempre o soube desde que o vira pela primeira vez quando deviam ter uns seis anos de idade aproximadamente, isso agora parecia uma eternidade.

 

- Uma música virá em boa hora! – disse em voz alta levantando-se para ligar o aparelho portátil que estava sobre a penteadeira lindamente decorada, apertou alguns botões e selecionou uma lista que já estava acostumada a ouvir e bem definida, o som não era alto, mas era confortável poder ter aquele lugar só para si.

 

Morava em Malahide desde que nascera, nos arredores de Dublin na Irlanda, mas não muito próximo da capital. A casa em Seapark era tudo o que conhecia do mundo e quando terminasse os estudos pensava talvez em viajar para Londres, quem sabe passear pelo resto do mundo, uma cidade de cada vez. Demorou em perceber que a música tinha acabado e sido substituída por um ruído baixo, porém, persistente, olhou mais de perto o visor luminoso e ainda que estivesse num dos títulos escolhidos não conseguia ouvir nada que não fosse aquele ruído continuo e desagradável.

 

Ligou a televisão, já tinha terminado os deveres de casa e não havia motivo para que não se divertisse um pouco vendo uma programação qualquer que lhe interessasse, estranhou que não pudesse sintonizar nenhum canal ainda mais àquela hora, era quase meio do dia. Escutou um barulho vindo do andar de baixo e como não esperava ninguém achou melhor verificar o que poderia ser, ademais, Rex estaria a seu lado caso fosse algum intruso tentando invadir a casa, ainda que não fosse hábito terem esse tipo de ocorrência sabiam que os problemas da cidade grande não tardariam em chegar naquele lugar calmo e paradisíaco. Seu oásis particular!

- Olá Riley! Dê-me um abraço! – disse Brian O’Connor para a filha que descia as escadas ainda um pouco surpresa por encontrar o pai tão cedo em casa.

 

- Olá pai, o que faz tão cedo em casa? – não era hábito que isso acontecesse, mas estava feliz com a novidade.

- Parece estar havendo algum problema nas comunicações, os telefones não funcionam, os computadores também não, algum tipo de interferência segundo me disseram e fomos dispensados, pelo menos pelo dia de hoje até que esse problema seja solucionado! – não era uma novidade terem apagões tecnológicos pontuais na empresa, mas este especificamente tinha sido além das paredes do edifício onde trabalhava e esperava que fosse solucionado com rapidez, sempre o faziam com celeridade e neste caso não seria diferente, estava certo disso. Brian tinha um porte atlético, quase 1,90m e uma jovialidade que lhe fazia aparentar uma idade inferior aos seus quarenta e oito anos.

 

- Sim, aqui em casa também, parece que nada eletrônico está funcionando como deveria, mas poderemos almoçar juntos pelo menos! – estava sorridente com a novidade enquanto Brian tentava mudar de sintonia na televisão que persistia em manter a tela com visível interferência, achou estranho, mas considerou melhor não falar sobre o assunto, poderia ser uma pane nas retransmissoras, ainda que o sinal fosse por satélite, no entanto, não tinha muita ideia por onde este passaria antes de chegar em sua residência e no receptor.

 

- Acho uma ótima ideia! Aonde vamos então? – ainda não tinha acabado de perguntar quando ouviram novamente a chave na porta e esta se abrir, era Nora O’Connor que se surpreendeu ao vê-los conversando.

 

- Querido, já em casa a esta hora? – beijou-lhe o rosto enquanto tirava o casaco e jogava por cima de uma cadeira próxima. – E você Riley, terminou de estudar? – olhou-a com severidade, ainda que a filha não fosse desobediente sabia que a idade em que ela se encontrava incitava para que os estudos ficassem em segundo plano, os rapazes eram mais importantes.

 

Nora era mais nova do que o marido quase cinco anos, mas da mesma forma que ele possuía a jovialidade dos trinta anos e uma aparência que faria inveja a muitas modelos, 1,70m, cabelos loiros e curtos, olhos verdes e lábios que convidavam a serem beijados a qualquer momento.

 

- Sim, aparentemente tivemos um problema nas comunicações e mandaram todos para casa, não fiz objeções em passar mais um dia sem trabalhar! – sorriu beijando a esposa que acabara de chegar.

 

- Estranho, aconteceu o mesmo comigo e por todos os lugares por onde passei percebi o mesmo problema! – olhou-o com apreensão, Riley que estava perto se aproximou com cautela.

 

- O que está havendo pai? – Nesse momento ouviram as sirenes de alerta para perigos iminentes que soavam por todos os lados como se anunciassem uma catástrofe que se aproxima. Sabiam que deveriam permanecer em casa e esperar notícias que viram por rádio ou televisão, era o procedimento padrão, - “Mas se os equipamentos de comunicação estavam com problemas, como poderiam saber a que se devia aquele alarme inesperado?” – Brian considerou que a situação era mais grave do que podia ter imaginado.

 

- Acho que devemos ficar em casa e esperar por notícias, em breve alguém deverá nos comunicar alguma coisa! – Olhou pela janela ao mesmo tempo em que via seus vizinhos e outros chegarem a casa, ao que tudo indicava todos tinham recebido as mesmas orientações durante o dia. Isso não parecia nada bom...

 

Eram quase dezesseis horas quando as sirenes soaram mais fortes pela segunda vez de forma persistente antes que ficassem novamente mudas e ouvissem em seguida um som surdo e retumbante, repetiu-se por mais alguns minutos como uma onda que os açoitava continuamente até que parou por completo, o silêncio era absoluto.

 

- O que foi isso Brian? Estou ficando assustada? – disse-lhe Nora aconchegando-se em seu peito ao mesmo tempo em que ele a confortava e estendia o braço para que Riley se juntasse a eles.

 

- Não faço ideia, mas a noite já vai cair sobre nós e precisamos pelo menos estar devidamente alimentados, vamos comer alguma coisa! – andaram na direção da cozinha que agora começava a ficar na penumbra.

 

Tentou ligar a luz que não funcionou, testou outros eletrodomésticos que não responderam, todos apresentavam com algum tipo de defeito que os impedia de ligar, em breve ficariam no escuro e por esse motivo precisavam de uma alternativa imediata para a noite que não tardaria, mas de momento era urgente que se alimentassem de forma adequada e ficar preparados, a noite poderia ser muito longa.

 

Ficaram alerta e algumas explosões podiam ser ouvidas a longa distância, muito vagas, mas decididamente explosões de alguma natureza, Brian imaginou que pudessem vir do aeroporto de Dublin que não era longe, bem próximo poderia dizer. Seria ser uma medida antiterrorista? Não era a primeira vez que isso acontecia na Irlanda, mas os tempos eram de paz a menos que a trégua que viviam tivesse sido quebrada.

 

Novamente o silêncio foi o que deu lugar a todo o ambiente, olhando novamente pela janela Brian não via vivalma na rua, nem mesmo ouvia qualquer tipo de ruído, procurou Rex que não estava próximo e o encontrou debaixo de uma mesa deitado com um olhar triste e assustado.

 

- O que foi rapaz? Venha aqui! – puxou-o pela coleira com alguma resistência e afagou-lhe o pescoço demoradamente, seu cão não tinha o hábito de ficar tão quieto e assustado, alguma coisa não estava certa e ele sabia disso, toda aquela situação em que permaneciam agora tinha se agravado pela falta de notícias, considerou por instantes que se por acaso o que estivesse havendo fosse algum tipo de atentado terrorista seria de dimensões nucleares, isso explicaria os aparentes pulsos eletromagnéticos que sentiram mais cedo e o mal funcionamento dos equipamentos elétricos.

 

- Nora, Riley! Venham aqui! – chamou-as para que se juntassem a ele ao lado de Rex que permanecia no chão deitado e com o olhar muito vago. – Acho que sei o que está acontecendo e temos que nos preparar! – fitou-as alternadamente para ter certeza de que o compreenderiam.

 

- Creio que estamos em guerra! É provável que tenha havido um ataque terrorista ao nosso país e com isso perdemos as comunicações e se isso aconteceu foi de proporções nucleares! – fez uma pequena pausa para ele mesmo acreditar no que dizia. – Se isso for verdade precisamos nos proteger da radiação e de qualquer nação inimiga que esteja tentando nos invadir! – ainda achava difícil que alguém acreditasse no que acabara de dizer.

 

- Mas como isso é possível? Onde estão nossas defesas militares e porque não temos notícias oficiais? – Nora tinha uma vaga noção de que viviam num país pacífico e sem grandes recursos financeiros e naturais que pudessem servir de motivo para serem invadidos, certamente haveriam outras opções melhores no meio do caminho, a menos que fosse uma operação global, mesmo assim, poderia ser a posição estratégica em que se a Irlanda se encontrava, mas isso ainda estava apenas no âmbito da especulação.

 

- É tudo o que posso imaginar de momento, mas precisamos estejar preparados! Vamos ver o que temos em casa e o que podemos utilizar! – Brian sabia que tinham menos de meia hora até que tudo ficasse totalmente escuro e não tinha certeza se seria uma boa ideia acender qualquer tipo de iluminação depois que anoitecesse. A seu lado Riley estava confusa com toda a movimentação da casa, mas obedeceria conforme ordenado.

 

Duas fortes batidas na porta da frente foram ouvidas, alguém os procurava e poderia ter novidades sobre o que ocorria, novamente soaram nervosamente sobre a madeira da porta de entrada e desta vez mais fortes do que as anteriores.

 

- Riley! Riley! – era Chris Raines o vizinho. – Abra a porta, por favor! – insistia para que abrisse a porta sem demora e sabia que ela estava em casa, era um de seus segredos e que não revelava para ninguém.

 

Riley correu para a grande sala que dava acesso ao Hall de entrada de tal forma que nada a pudesse impedir, Brian tentou puxá-la pelo braço para que não chegasse perto da porta, mas já era tarde e a antes que ele a alcançasse Chris Raines entrava pela porta sem ser convidado, fechando-a imediatamente sem olhar para trás.

 

- Temos que sair daqui agora mesmo! – dizia-lhes em tom de urgência puxando-a pela mão. – Vão chegar a qualquer momento, não temos tempo a perder! – foi interrompido por Brian que se interpôs entre eles e a saída.

 

- Ninguém vai a lugar algum rapaz, até eu saber o que está acontecendo e para início de conversa solte minha filha agora! – Brian puxou Riley para perto de si e manteve Chris Raines à distância. – Agora com muita calma me diga o que você sabe, depois veremos o que faremos! – Ainda mantinha Nora e Riley ao seu alcance protegendo-as com o próprio corpo.

 

- Perdão senhor O’Connor, não quis ser indelicado! Não pensei que estivessem em casa, meus pais não voltaram, imaginei que Riley estivesse sozinha! – desculpou-se ao ver que a família estava reunida e esperando explicações para a tempestiva entrada que tivera na casa deles.

 

- Sem problemas, mas conte-nos o que sabe! – Brian começava a ficar impaciente.

 

- Tudo começou há quase uma semana, havia boatos na Internet que um grande meteoro poderia se chocar com a Terra nos próximos dias, mas era só especulação, isso acontece o tempo todo, até que ontem de noite começaram a aparecer umas mensagens de que não se tratava de um meteoro e sim algum tipo de objeto alienígena gigantesco! – Chris gesticulava bastante tentando demonstrar a grandeza do que falava.

 

- Vamos lá rapaz você não está dizendo coisa com coisa! Era só que nos faltava a esta altura dos acontecimentos! – Brian ainda olhava para o rapaz á sua frente com desconfiança.

 

Chris era pouco mais baixo que ele, talvez 1,80m de altura, com certeza era um dos atletas da escola em que sua filha estudava, sabia que eram colegas, ainda que de turmas diferentes por ele aparentar ser um ano mais velho, o que lhe conferia dezessete anos, cabelos castanhos e curtos, olhos da mesma cor e um sorriso simpático que a esta altura estava ofuscado pelo nervosismo dos acontecimentos.

 

- Deixe-o falar Brian, ele pode saber de alguma coisa realmente! – Nora assustada começava a ficar também impaciente ao mesmo tempo em que pedia uma solução imediata por parte do marido, ele era o chefe da família.

 

- Não estou alucinando senhor O’Connor, antes de todos os aparelhos colapsarem havia notícias que o objeto estava na órbita entre a Lua e a Terra, e que essa órbita era direcionada, portanto, de origem inteligente depois disso as comunicações caíram e por fim tudo ficou em silêncio, até as sirenes... – Chris não tinha mais o que dizer, só queria sair dali o mais rápido possível e levar Riley com ele que o olhava desejando poder pegar-lhe a mão e sair sem destino, quem sabe ser abraçada por ele naquele momento tão estranho e incerto.

 

Para surpresa de Brian pelo que acabar de ouvir e por mais improvável que pudesse parecer, não tinha pensado que o abrupto silenciar das sirenes não tivesse sido proposital, mas ainda seria muito difícil acreditar no que acabara de ouvir, de qualquer forma, era urgente que fizessem um plano de contingência e a hora já havia passado há muito tempo, na mesma medida em que agora conversavam no escuro assim como do lado de fora nada parecia ter vida.

 

- E para onde devemos ir Chris? Que lugar é mais seguro? – Riley foi a primeira a dar crédito aos argumentos do amigo de infância e seu amor secreto, acima de tudo queria estar com ele.

 

- Para as montanhas de Wicklow, não ficam longe e nos fornecerão abrigo, mas teremos que atravessar a capital ou contorná-la, o que será mais demorado! – considerou em sua pouca experiência que seria o melhor local para se esconderem e não serem capturados. Imaginava que aconteceria algo do tipo já que a aproximação não parecia amigável.

 

- São pelo menos vinte e duas milhas em linha reta de Malahide até Wicklow e se as coisas forem ao menos parecidas com o que você falou, e veja bem, não quer dizer que eu acredite, atravessar Dublin seria suicídio! – Brian tinha conhecimento das distâncias com alguma precisão e seu bom senso o avisava para evitar locais populosos em caso de catástrofes de grandes proporções. Os seres humanos tendiam a se tornarem selvagens.

 

- Seja como for, por hoje acho que devemos ficar por aqui até que amanheça e a partir daí, sondarmos o melhor a fazer e que caminhos seguir caso seja necessário! – Era a última palavra como chefe de família e até que o dia raiasse teriam que aguardar, permitiu que Chris Raines se juntasse a eles pelo menos por aquela noite.

 

Não precisaram esperar o amanhecer, era noite de Lua cheia e podiam ter uma visão bastante ampla do lado exterior, notaram que muitos dos vizinhos não haviam voltado o que incluíam os pais de Chris, provavelmente devido à falta de transporte que os levasse até ali, mas o que mais os incomodava era o silêncio absoluto, depois a ausência de notícias. Estavam acostumados a um mundo de tecnologia e que sempre poderiam ficar a par dos últimos acontecimentos através dos aparelhos de telefonia móvel ou similares, porém naquele momento tinham a nítida impressão de terem voltado para a Idade de Pedra.

 

A primeira a escutar o zumbido agudo e lancinante que se aproximava foi Riley que levou as duas mãos aos ouvidos na tentativa de diminuir a intensidade que parecia ferir-lhe os tímpanos. – Pare! Pare! Pai me ajude! – gritou em voz alta alarmando todos os que estavam na casa.

 

- O que foi Riley? – Nora aproximou-se correndo em direção da filha.

 

- Estão vindo! Estão vindo! – ainda tentava interromper o ruído ensurdecedor que ouvia. Em seguida foi a vez de Chris cair no chão tampando também os dois ouvidos.

 

- Protejam-se eles vão chegar! – foram as últimas palavras antes de desmaiarem. Riley tombou ao seu lado para desespero dos pais que não entendiam o que estava acontecendo com eles, especialmente como sua única filha a quem tanto amavam.

 

Leia o Livro!

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