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LIVRO EM FORMATO DIGITAL

 

 

“Não são as pedras que fortalecem os Castelos, mas sim quem os constrói!” E.W.

Certa vez, enquanto olhava firmemente para as ruínas de uma velha casa, lugar que outrora habitou e foi habitado, não pude deixar de imaginar quantas histórias as pedras daquelas paredes poderiam nos contar. Em todo o caso, as vozes sempre se fizeram ouvir, fossem pelo leve sopro do vento que insistia em desviar a minha atenção, como pelo silêncio ensurdecedor que emanava de todo o recinto, cortado apenas por um ou outra ranger de portas ou janelas.

Ao longe o canto de uma ave me dizia que não havia morte naquele lugar, apenas solidão. A diferença entre estar Só e estar Sozinho é que a primeira opção é uma escolha pessoal e intransferível nossa, por outro lado, já na segunda opção não temos qualquer tipo de escolha. Aos poucos me apercebi que pouco mais adiante, possivelmente, um riacho com uma água que imaginei cristalina descia célere rumo ao desconhecido, caminho este conhecido apenas por quem nele navegava, os rios e lagos não tem idade, somente os Homens atribuem tempo ás coisas, as coisas não precisam de tempo. Estava muito longe de estar Sozinho!

Sentei-me no chão ainda quente pelo calor abrasivo que fizera por toda a manhã ensolarada, passava pouco mais do meio dia e a dita civilização estava a muitas milhas de distância, talvez não tantas quanto desejasse, mas o suficiente para que o isolamento me permitisse e contemplar por mais alguns minutos, quem sabe horas, todos os sinais que emanavam do lugar que de místico não tinha nada, muito pelo contrário, era um local como tantos outros que já havia passado, mas aquelas paredes silenciosas insistiam em revelar algo. As horas seguintes pareceram uma eternidade desejável e ao cair da noite já era tarde demais para que procurasse outro lugar para pernoitar, assim sendo, acomodei-me da melhor forma possível no que sobrara do interior da casa em ruínas. A lareira ainda podia ser vista a um canto da parede que permanecia em pé como se fosse a Muralha da Vida, juntei alguns pedaços de madeira e sem a pressa que o momento exigia acendi um lume brando e pequeno, não necessitava de uma grande luminosidade, isso por si só já estragaria todo o momento selvagem.

Aproveitei a penumbra da noite e as sombras das chamas que crepitavam, muito se pareciam com as danças de criaturas que o próprio tempo já havia esquecido, apercebi-me que eu também os esquecera. Fantasmas que assombravam a humanidade por milênios estavam diante de mim exorcizando freneticamente os males do mundo. Deixei que o corpo deslizasse sobre o chão de modo a que pudesse olhar as estrelas, as estrelas sim... Havia certamente tantas ou mais do que os grãos de areia que pudessem existir na nossa Terra. Isso era simplesmente assombroso.

Adormeci entre Demônios e Ninfas imaginando que dançavam para mim... Sonhei que poderia dormir por cem anos. Ao amanhecer o perfume exalado das flores esmagadas pelo meu corpo enquanto repousava avisavam que estava na hora de acordar e que era preciso seguir em frente, abri os olhos e sobre os meus pés uma pequena manta os mantinha ainda aquecidos do frio da noite, que juro não ter sentido. Nunca a tinha visto, muito menos de onde pudesse ter vindo, até porque não tenho um sono pesado, mas se havia Ninfas... Certamente passaram por ali.

Levantei-me, sacudi um pouco a poeira num gesto casual e premeditado como se fosse necessário, caso que não era. Sentei-me sobre um pedaço de parede que ruía e como de costume, lancei mão da minha amiga inseparável a Máquina fotográfica... Para minha surpresa havia mais 100 fotografias do que eu tinha tirado. Olhei atentamente uma por uma, me reconheci dormindo, mas não estava só... O restante da história fica para outra hora, ou para outro livro.

Publicado 2017

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