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ARCADAMIUS

RETALIAÇÃO

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Capítulo I

 

Transformação

 

Depois de duas semanas resolvendo assuntos burocráticos a bordo da nave terrestre Vortex, a Comandante Riley O’Connor ainda mantinha o espirito de liderança que adquirira em tempos de guerra. Os vinte anos seguintes e que ficara enclausurada na cápsula de hibernação a bordo da nave alienígena, tinha-lhe poupado do envelhecimento natural e ainda que tivesse a aparência de uma adolescente de dezesseis anos, sua idade real era de trinta e seis anos, um a menos do que o seu segundo em comando Chris Raines e outrora seu namorado.

 

O destino os havia separado de forma muito específica, enquanto ele permaneceu na Terra contra vontade, ela e Samuel Thorne ficaram adormecidos por “quase uma eternidade” como ele dizia. Mas se não fosse por suas atitudes de bravura e desprendimentos com as próprias vidas, a grande Nave Mãe já teria chegado ao destino com a carga preciosa que ainda carrega em seus porões; a raça humana reminiscente da invasão alienígena que aguardava o despertar no interior dos Sinos dourados.

 

Porém, nem tudo tinha sido em vão para todos os membros da Alcatéia. Os que ficaram em terra pelos dez anos seguintes de alguma forma conseguiram ocupar posições estratégicas e muito acertadamente Chris Raines tinha desenvolvido um excelente plano de expandir o grupo iniciado por eles de forma paramilitar e que aguardavam apenas a oportunidade de entrarem em ação, para fazerem uma intervenção efetiva e que em seguida o planeta voltasse a ser uma zona de livre acesso a seus habitantes legítimos e não ficar dividida em quadrantes como era o caso presente.

 

Nos dez anos seguintes o desenvolvimento e construção da nave através do Projeto Vortex tinha consumido metade desse tempo, por sua vez os outros anos restantes foram de navegação pelo espaço até aportarem na Astronave alienígena à qual Riley chamava de Terra Solaris. Com isso um total de vinte anos haviam se passado.

 

Enquanto Riley permaneceu em Animação Suspensa naquela cápsula do tempo, a nave a instruía no seu completo funcionamento, afinal ela era compatível e não havia motivos para que não o fizesse, mas o outro não. Primeiramente instruiu-a sobre o básico e depois os sistemas mais avançados, mas isso não acontecia com Samuel que também ficou adormecido a seu lado, afinal ele não era um dos Invisíveis e por esse motivo a nave não “conversava” com ele como fazia com ela. Por outro lado, essa preciosa informação ainda não tinha sido compartilhada com o restante do grupo que muito em breve passariam a fazer parte da tripulação e que rumariam para o sistema solar dos invasores!

 

A Comandante estava determinada a tirar aquela guerra do “jardim” de sua casa e levá-la para o “quintal” dos invasores em seu próprio Sistema Planetário, Zarahndell. Sabia que seria um trabalho árduo e novamente teriam problemas em relação ao tempo, pelos seus cálculos e na melhor das hipóteses o primeiro confronto no espaço ocorreria dentro de outros dez anos terrestres, talvez um pouco menos. Isso representaria mais ou menos dois anos ininterruptos a bordo da Solaris com os sistemas de antigravidade a toda a potência, a distorção temporal seria inevitável. E por esse motivo a necessidade de recrutar a tripulação adequada se fazia urgente.

 

Em todo o caso, apenas ela estaria no comando e controle da Astronave que agora lhe pertencia. Em seus sonhos, aprendera o modo como fora concebida, depois construída e finalmente lançada ao espaço infinito em direção a Actuna de Toris. Mas esse segredo sobre a tecnologia alienígena ela ainda manteria guardado por muito tempo, não via motivos para incitar imaginações férteis em compará-la àqueles invasores miseráveis que tinham roubado seu futuro.

 

No entanto, era inegável que houvessem paralelos em comum, mas apesar de todas as suspeitas, ainda não tinha descoberto o ponto convergente, que fazia com que os Invisíveis estivessem de alguma forma relacionados com a raça do planeta Arcadamius e que ela passou a reconhecer sua origem no Sistema Planetário de Zarahndell. Cada dia que passara naquele estágio letárgico de hibernação familiarizou-se mais com os nomes aplicados e a tradução adequada para a língua dos Azlathius, ou povo de Actuna.

 

Aqueles invasores possuíam uma cultura elaborada e expansionista, não que os humanos também não o fossem, mas nós ainda estávamos confinados ao pequeno planeta azul e dentro do Sistema Solar de Ondenbar, mas o grande problema é que aquela raça alienígena nos via como uma ameaça para todo o universo caso conseguíssemos sair para o espaço exterior e de certo ponto de vista não estavam errados nesse pensamento.

 

Por ironia do destino, eles mesmos tinham proporcionado a ela, Riley O’Connor, os meios para que agora o povo terrestre tivesse uma oportunidade de lutar a guerra galáctica que se aproximava em pé de igualdade e faria tudo ao seu alcance para que obtivessem o máximo de sucesso enquanto estivesse no comando. Daquele momento em diante não haveriam mais surpresas para o planeta azul se dependesse dela e sua Alcatéia, mas era bem possível que do lado inimigo não fosse o mesmo caso.

 

- Finalmente poderemos conversar um pouco desde aquele sono profundo que tivemos... – Samuel Thorne tinha esperado o momento adequado para que pudesse novamente se aproximar de Riley, porém, a situação havia mudado dramaticamente pelos acontecimentos inesperados, a gravidez dela não estava prevista por nenhum deles e Chris Raines sendo o pai, não deixava muita margem para que pudesse haver um relacionamento amoroso entre eles. Mas o beijo que recebera antes de adormecer ainda permanecia latente em seus lábios.

 

- Olá Sam! É sempre bom ver um rosto conhecido... – Riley não estava exagerando, ainda que todos que conhecia e estimava como amigos estivessem agora ao seu lado, era inevitável pensar que vinte anos haviam se passado e para os que estavam não Terra foi uma vida ininterrupta, e dessa forma a idade não lhes perdoou. Apesar de terem idades aproximadas, ela e Sam, por conta da hibernação pareciam ter metade da idade dos amigos e isso acabou por criar um abismo entre eles significativo. – Não entenda mal Sam, mas nós não envelhecemos como eles e isso tem prejudicado nossas relações! – suspirou longamente deixando o corpo cair sobre uma cadeira que estava perto.

 

- Entendo o que quer dizer, eu mesmo quando me vejo no espelho acho estranho estar agora com quarenta anos pela contagem de tempo terrestre e ainda possuir um corpo de vinte anos! É como se estivesse aprisionado no corpo de outra pessoa, mas seria muito pior se fosse ao contrário, uma mente jovem num corpo velho! – deu uma risada longa e divertida.

 

- Sim, para nós nada mudou, na verdade nosso corpo e nossa mente continuam os mesmos, mas não podemos deixar de pensar que temos a idade que temos! – sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos que não lhe levariam a lugar nenhum no momento. – Em todo o caso é ótimo que esteja aqui Sam! Fizemos uma grande confusão a bordo da Nave Mãe, não foi? – devolveu-lhe o sorriso.

 

- Você foi incrível! Jamais imaginei que tivesse tanta coragem e graças ás suas atitudes impensadas, conseguimos ficar perto de casa! – o fato de terem permanecido em órbita de Saturno tinha sido providencial, lamentavelmente não tiveram tempo de aprender mais sobre a nave para que os levasse para casa. – E jamais imaginaria que você estivesse grávida... – finalizou o comentário servindo-se de um chá aromatizado e quente.

 

- Sam, eu não tinha ideia de que isso fosse possível... – tentou justificar-se para o amigo – eu estava recém-iniciada por Chris, com o meu consentimento, ao mesmo tempo parecia que o mundo acabaria e eu jamais conheceria o que seria ser verdadeiramente amada por um homem... – Olhou para ele com certa reserva por estar expondo sua intimidade. – Você consegue compreender o que estou dizendo? – não tinha certeza se ele alcançaria seu pensamento, ou mesmo se estava interessado em suas justificativas.

 

- Não me deve nenhum tipo de explicação Riley e eu sempre soube que Chris era sua primeira e única opção! – resignou-se em atestar os fatos. – Mas fiquei confuso quando me colocou para dormir... – Passou as os dedos pelos lábios – ainda sinto seu gosto na minha boca Riley...

 

Ela o observou demoradamente e sabia muito bem do que ele falava, mas isso tinha sido uma despedida em que ela mesma não tinha a certeza se o veria novamente ou mesmo se conseguiria salvá-lo e naquele momento sentiu vontade de beijá-lo.

 

– Foi há muito tempo atrás Sam... – Lembrou-se que pensou em se deitar a seu lado naquele momento e ficar aninhada nos seus braços por toda a eternidade se fosse preciso, mas a realidade dos acontecimentos mostrava outra coisa.

 

- Não tanto quanto querem nos fazer pensar! Para nós apenas duas semanas, para os outros, uma eternidade, mas não tivemos culpa, não é? – ele ainda não tinha a resposta que queria.

 

- Lamento Sam... Em outra vida, outra realidade, outro momento talvez, tenho certeza que teríamos uma oportunidade juntos, uma vida a dois, mas agora não mais! – era categórica em seu pensamento, mas era inegável que enquanto estavam a sós a bordo da Nave Mãe, tinha quase absoluta certeza que ele seria seu destino.

- Então é isso? Simples assim? – não era nada que não esperasse, mas a verdade ainda era para ele dolorida e amarga. Aprendera a amá-la sem qualquer tipo de restrição e isso partiu seu coração. Não seria a primeira vez, isso era certo, porém desta vez a ferida era mais profunda.

 

- Lamento Sam... – foram suas únicas palavras. No íntimo sentia-se mal por ter alimentado esperanças em ambos, não lhe falou a verdade sobre não poderem formar um par nesta vida, mas esperava um filho de Chris, seu amado Chris, que ficara no passado e que no presente pertencia a outra pessoa, entretanto, ainda haveria um longo e árduo caminho a cruzar. Ela tinha planos para todos e sabia disso.

Laura Fernigan que se apressou em ir ao encontro da Comandante a pedido da mesma esperou na antessala de comando que acabassem, foi inevitável não escutar a conversa entre eles. Entendia muito bem o paradoxo temporal ao qual eles estavam expostos e as consequências possíveis, mas por outro lado sentiu-se feliz por saber que Samuel estava disponível e ela o desejava. Apertou o intercomunicador ao mesmo tempo em que entrava para que sua presença fosse anunciada.

 

- Comandante! Sam... – Cumprimentou os presentes na sala de comando.

 

- Olá Laura! Eu estava de saída, me desculpe... – Samuel saiu sem demonstrar qualquer tipo de emoção no rosto. Riley que bebia um chá também tinha sum semblante enigmático e indecifrável, levou o liquido á boca e o sorveu lentamente sentido o sabor acentuado da hortelã. Amava o aroma e o gosto daquela planta tão milenar.

 

- Espero não ter interrompido Comandante... – Laura quis ser mais polida do que realmente precisava.

 

- Tenho certeza que ouviu o suficiente Laura, não precisa tentar disfarçar o indisfarçável! – olhou para ela por cima da xícara de chá – Você gosta dele não? – também foi direta como vinha sendo com todos os que se colocavam á sua frente nos últimos dias.

 

- Não posso negar que esteja interessada... – mordeu levemente o lábio inferior enquanto apertava suas anotações no bloco digital contra o peito e de forma involuntária. O sentimento por ele era forte.

 

- Terá sua chance, não se preocupe! – pousou a xícara sobre a mesa central e fez um gesto para que ela se aproximasse mais. Apertou o botão que lacrava toda aquela sala. – Preciso saber mais sobre a minha gravidez... Inclusive quando e como acontecerá... – estava insegura quanto ao que viria pela frente, em sua mente ainda tinha apenas dezesseis anos, em breve dezessete, mas levaria alguns meses.

 

- Bem Riley... Quer dizer Comandante... – Riley não a corrigiu, preferia ser chamada pela patente que a designava no comando da Alcatéia, apenas alguns tinham o privilégio de se dirigir a ela de forma mais pessoal e intima. – Imagino que tenha muitas perguntas e com absoluta certeza responderei a todas, mas quanto àquelas que me fez inicialmente, acontecerá em sete ou oito meses. Isso em condições normais, na Terra, aqui trata-se apenas de suposição, mas como temos a gravidade artificial e todas as condições favoráveis a que estamos acostumados, não vejo motivo para que a natureza não siga o curso normal! – teoricamente estava certa e tudo indicava que seria um parto normal. Era esse seu parecer clínico.

 

- Você quer voltar para a Terra, Laura? – perguntou-lhe secamente na busca por uma resposta que imaginava saber antecipadamente.

 

- Será a minha primeira opção na ausência de uma proposta melhor... – A Comandante da Alcatéia a estava testando e ela sabia muito bem. Aceitou o jogo e queria ver todas as cartas na mesa.

 

- Já tenho as respostas que queria Laura, obrigada... – Certamente ela seria uma ótima escolha para a Terra Solaris junto com outros que ainda seriam selecionados. A missão para combater Arcadamius na sua origem precisava iniciar o quanto antes.

 

- Como pretende criar sua filha neste espaço sem fim Comandante? – quis saber antes de sair. Isso era uma pergunta que muitos já haviam lhe feito, mas que somente a própria mãe da criança poderia responder.

 

- Deixe que eu e o pai dela nos preocupemos com isso Laura, em todo o caso agradeço por ter perguntado, foi muito gentil de sua parte! – Laura saiu em seguida sem dizer uma única palavra, apenas abaixou a cabeça e apertou o botão que abria a porta que levava aos corredores da Vortex.

 

Muitas decisões precisariam ser tomadas a partir daquele momento e se haveria uma guerra era urgente que mobilizasse todos os seus subordinados para que entendessem a gravidade da situação. Quanto antes tivessem ciência dos planos que tinha em mente melhor seria para todo o grupo, até porque não pretendia mantê-los por muito tempo fora de casa, o planeta Terra precisaria deles muito em breve.

 

- Oficias do comando, compareçam à ponte! Por favor... – a voz dela era impessoal, seria melhor para todos manter a cordialidade até que tudo estivesse acabado, mas sua mente não a deixava pensar de forma muito clara e ela sabia que a Astronave alienígena continuava lhe enviando informações mesmo contra sua vontade. Estava inevitavelmente interligada àquele complexo estelar alienígena.

 

Chris Raines e Robert Parks foram os primeiros a chegar á ponte de comando e sentaram-se respectivamente à direita e esquerda da Comandante, Tommy Mulligan e Bobby Flanngan ao lado destes dois respectivamente, por fim Lionel O’Malley e Anne Ridley se juntaram ao grupo. Formavam um grupo muito seleto. Anne posicionou-se defronte a ela para observá-la melhor, tinha se interessado pelo seu estado de saúde delicado ainda naquele corpo de adolescente e do filho que ela carregava em seu ventre. Apenas Sam ficaria de fora, o que Riley tinha para dizer não se estendia a ele, pelo menos não naquele momento.

 

- Convoquei-os para esta reunião porque existem alguns fatores que precisam ter conhecimento e não posso deixar de dividi-los o quanto antes, desta forma será possível tomarmos as melhores decisões baseadas nas informações que lhes passarei a seguir! – levantou-se como era de seu costume e permaneceu um pouco afastada da mesa junto ao painel e controle principal, apoiou-se levemente sobre ele. A roupa de couro ainda era sua marca registrada.

 

- Vamos voltar para a Terra já? – Bobby que estava ansioso por voltar para casa, afinal em sua mente o objetivo já tinha sido alcançado e seus amigos resgatados. Missão cumprida.

 

- Abaixe essa mão Bobby! Não estamos mais na escola! – sorriu para ele lembrando-se que mesmo depois de tantos anos, velhos costumes eram difíceis de serem esquecidos. – Respondendo á suas perguntas, não, ainda não podem ir para a Terra e esse é um dos motivos pelos quais estão nesta sala! – olhou para todos os presentes, especialmente para Chris que fazia alguns apontamentos no dispositivo eletrônico sobre a mesa. A relação entre eles tinham permanecido muito distante desde que despertara.

 

- Vou lhes passar algumas informações delicadas e que deverão ser analisadas com o cuidado necessário para cada assunto e estarei disposta a responder a tudo o que for perguntado e a todos se estiver ao meu alcance! – levantou-se de onde estava encostada e apoiou as duas mãos sobre o encosto da cadeira na frente. Os cabelos loiros e compridos pendiam-lhe pelos ombros e da jaqueta de couro, ressaltando os olhos azuis e joviais. Chris evitava olhá-la em qualquer momento que fosse e Anne percebia o esforço sobre humano que o marido fazia para controlar-se.

 

- A primeira coisa será lhes revelar a razão pelo qual nós, chamados de Invisíveis, não fomos raptados assim como o restante da humanidade! – iniciou sua longa e o que poderia considerar monótona explicação. – O lugar de onde os invasores vieram fica a milhões, bilhões de quilômetros de nosso Sistema Solar, habitam um planeta sombrio e com absoluta certeza governam outros tantos ao redor. Por outro lado, são os percursores de boa parte da vida pelo universo! – pegou a garrafa de água e derramou um pouco no copo, apenas o suficiente para um gole longo. Só precisava desses recursos biológicos enquanto estava no interior da Vortex.

 

- O planeta de onde vêm se chama Arcadamius e fica no Sistema Planetário chamado Zarahndell e antes que me perguntem, não, não sei onde fica e nem talvez saiba como chegar lá! – olhou para todos os presentes percebendo que tinha a atenção de todos. – Há milhões de anos esta civilização era muito parecida com a nossa nos tempos atuais, no caso, até onde acompanhei, porém, alguns milênios á nossa frente em tecnologia e criaram uma espécie de nave que enviaram ao espaço semeando vida por onde passasse! Pode-se dizer que seria o berço da vida conhecida, toda ela! – circundou a mesa vagarosamente parando atrás de Anne. – Essa nave na nossa língua se chamava Gaia!

 

- Então eles são aquilo que chamamos de Deus? – Lionel queria saber mais sobre os criadores que ela falava.

 

- Não creio que seja isso Lionel, essa pergunta ainda ficará por ser respondida, talvez até por toda a eternidade, mas se queríamos saber quem nos criou a resposta é esta que eu dei! Os Arcadamianos! – não tinha muita certeza de como a informação chegara ao seu conhecimento, mas sabia que era verdadeira.

 

- Continuando, essa mesma civilização entrou em declínio e passou a ser expansionista no sentido de dominar outras civilizações por eles criadas, ou não! – viu que todos a olharam com surpresa. – Sim, existem outras civilizações que não foram concebidas por eles e que vivem em constante guerra, pelo menos aqueles que podem ter esse poder de fogo! – continuou circundando a mesa.

 

- É claro que para essa raça conquistadora não foi um consenso semear a vida pelo universo e para isso criaram uma combinação de DNA que não possuía os mesmos marcadores que eles, dessa forma sempre seriam a “cepa” original! – interiormente divertia-se por saber tanto depois de acordar, para ela tudo era um mistério antes de hibernar e agora um livro completamente aberto. – Mas o planeta Terra é único na sua composição e a natureza forçou um meio de reposicionar algumas coisas no lugar original e daí nasceram os Invisíveis, aqueles que possuem o Fator Rh AB Negativo e que representavam 1% da população mundial! – ainda estava só começando e já começava a ficar cansada.

 

- Entendo a sua explicação e me parece bastante plausível mesmo que não tenha a certeza de onde esse conhecimento tenha vido Comandante, mas por qual motivo resolveram nos abduzir e eliminar da face da terra? – Robert esperou a vez de perguntar aquilo que lhe afligia desde o início da invasão.

 

- Eles são pelo menos dez vezes mais numerosos que toda a população da Terra, isso numa estatística bastante conservadora e padecem de um mal genético por causa da clonagem e que não lhes permite a reprodução, por esse motivo estão morrendo de forma acelerada! – sentou-se um pouco, sentia que as coisas em seu corpo já não eram mais como antes, a vida dentro de si se fazia presente em todos os momentos. – Resumindo, eles não precisam de nossos corpos, mas do nosso sangue... Menos os dos invisíveis! – terminou a primeira parte de sua explicação para o motivo pelo qual foram invadidos.

 

- Então você estava certa desde o início de tudo, ainda que não queiram nos servir como alimentos não deixarão que sobrevivamos, não é? – era Chris quem lhe dirigia a palavra naquele momento.

 

- Sim, não vão permitir que nossa gente se salve sob hipótese alguma! E isso dependerá de nós apenas e ninguém mais! – reafirmava a resposta para a pergunta que ele lhe havia feito.

 

- E como poderemos salvar nossos pais, caso ainda estejam presos naqueles Sinos lá fora? Você sabe como fazer isso Riley? – Anne soltou a pergunta que todos queriam fazer naquele momento e que Riley tentou evitar por todo o tempo em que ali permanecia, sabendo que seria inevitável.

 

- Não sei como... A menos que os levemos de volta... – esta seria uma das coisas mais difíceis de precisaria fazer, mas não tinha escolha. – Não temos como saber, na verdade, eu não tenho como saber em qual Sino estão ou mesmo se estão lá, e por esse motivo não sei como simplesmente descongelá-los e enviá-los para a Terra junto com aqueles que seguirão na viagem de volta! – puxou para si a responsabilidade de toda a missão que seguiria.

 

- Isso significa que você não vai voltar para a Terra conosco Riley? – Chris estava preocupado primeiramente com seu filho e que ela carregava dentro de si. Depois com ela, por saber que muito provavelmente não mais a veria.

 

- Não posso... Se eu voltar com vocês todo o nosso Sistema Solar deixará de existir... – Não era o momento para entrar em detalhes, isso seria o assunto a abordar em seguida.

 

- E o que pretende fazer Comandante? – Tommy que ainda não se pronunciara fez a pergunta.

 

- Existem duas naves iguais a esta na qual estamos estacionados a caminho da Terra e se conseguirem chegar ao destino não haverá raça humana nenhuma depois disso, todos os que conhecemos e tudo o que construímos será apagado como se jamais tivesse existido! – considerou encerrar este assunto de momento, talvez fosse melhor adiar um pouco mais o restante das informações que seriam dadas. Afinal, eram muitas informações para serem assimiladas de uma única vez.

 

- Quanto tempo acredita que temos? – Chris novamente queria saber mais sobre os verdadeiros planos de Riley, se a conhecia bem ela já possuía um plano de contingência a caminho, só faltava colocar em prática.

 

- A Vortex partirá para a Terra dentro de dez meses e os Aliens chegarão em vinte anos terrestres! – essa era sua melhor estimativa baseado nos cálculos que a Terra Solaris tinha feito da aproximação dos Arcadamianos em relação á partida já efetuada, mas Riley O’Connor tinha planos para eles. - Para eles apenas quatro anos de viagem... O tempo passa diferente quando esta nave gigantesca singra o espaço a toda a velocidade. Isso se deve aos sistemas antigravidade que distorcem o espaço e o tempo.

 

- Bem, então teremos tempo de nos prepararmos para o confronto já que é inevitável! – Tommy estava radiante que pudesse entrar em ação mesmo que aparentemente fosse estar com quase cinquenta e cinco anos, esperava viver até lá para dar um bom chute no traseiro daqueles alienígenas nojentos.

 

- Você terá sua chance Tommy, muito antes do que pensa, mas por hora é só, preciso descansar um pouco, já não me sinto como antigamente... – começou a perceber que precisava se recolher para os aposentos onde dormia, a pequena criança que crescia em seu interior exigia mais do corpo agora.

 

- Posso fazer alguma coisa por você Riley? – Anne ofereceu-se em ajudar, tinha todo o interesse em que aquele bebê nascesse saudável.

 

- Sim Anne, por favor... Reunião encerrada senhores, espero que me perdoem pela súbita indisposição, mas voltaremos a nos encontrar amanhã nesta mesma hora aqui na sala de comando. Fiquem bem! – deu a volta pela mesa e Anne segurou-lhe o braço para que pudessem caminhar lado a lado até ao elevador que as levaria para o andar restrito dos aposentos da tripulação de comando.

 

Chris Raines ficou sem saber se podia ou tinha o direito de ajudá-la também, afinal aquele filho era seu, mas pensou melhor de momento não criar animosidades entre eles, em tempo essas coisas precisariam ser acertadas, se ela não pretendia ir para a Terra, com absoluta certeza não seria o caso de sua filha, depois que nascesse. Nisso ele estava certo, mas não por vontade própria.

 

- Eles a seguirão por onde quer que você vá Riley, literalmente, até ao fim do universo! – Anne deitava a amiga na cama, notando que estava visivelmente cansada.

 

- O que falta em sua vida Anne, para que seja feliz de verdade? – perguntou a Comandante sabendo qual seria a resposta.

 

- Uma vida sem fantasmas, ameaças externas e quem sabe mais tranquila! – Ela não desgostava da vida que tinha, mas estava longe de ser a que havia sonhado quando mais jovem, por outro lado, acreditava que nunca seria tarde para mudar. – Já pensou no nome que dará para sua filha quando nascer? – Anne quis mudar o rumo da conversa, não estava confortável de falar sobre seus problemas justamente com ela.

 

- Eu tomo decisões demais todos os dias Anne, creio que essa vou deixar para o pai do bebe resolver... – adormeceu em seguida. Anne passava os dedos por entre os cabelos da jovem adolescente que suspirava continuamente, sem saber que Riley continuava recebendo informações da Terra Solaris.

 

- O que acha de tudo isso? Ela está em condições de comandar a missão? – Robert não duvidava da capacidade de Riley, sempre se mostrou preparada, mas a situação delicada em que se encontrava podia interferir com o poder de julgamento que tinha. Em todo o caso, a anuência do segundo em comando ajudaria muito e neste caso era justamente ele Chris Raines.

 

- Ela sempre vai estar mais preparada do que nós jamais estaremos em qualquer momento! E ainda que não esperasse estar grávida, não creio que algo mudará nesse sentido! – era a mais pura verdade, confiava a sua vida e dos seus nas mãos dela. – O que não entendo é de onde ela tira tantas informações... – Isso ainda era um total mistério para eles.

 

- Laura talvez fosse a pessoa mais indicada para nos dar essas respostas! – Robert ainda procurava compreender tudo o que havia recebido de informações naquela reunião.

 

- Vamos deixar para depois, amanhã teremos outra reunião e não vamos dar esse passo! Ela mesma se encarregará de nos dizer! – uma desconfiança exagerada poderia transformar o relacionamento deles em algo que não queriam. – Nos vemos na reunião Robert! – saiu em direção do alojamento para ter notícias de Anne e Riley.

 

Enquanto a Vortex e sua tripulação faziam planos para regressar á Terra, no planeta alienígena o tempo que estava em contagem regressiva para a salvação de seus habitantes tinha expirado há muito tempo. Por algum motivo que ainda desconheciam a Nave Mãe não tinha retornado da missão com o suprimento necessário para sobreviverem. A partir daquele momento não haveria mais hipótese de perpetuar a espécie através da clonagem. O plano de capturar a raça humana e se servir de seu sangue para purificar a espécie tinha falhado e eles tinham que descobrir a razão do colossal fracasso.

As duas grandes naves que estavam a caminho eram a última esperança de salvação e não haveria motivo para voltarem caso fracassassem novamente, só que em vez de tudo ser automatizado, dessa vez existiria uma tripulação de alguns milhões de indivíduos. Estes seriam os primeiros a se beneficiarem da transfusão sanguínea, entretanto, não suspeitavam que o funcionamento inadequado da nave que ficara á deriva, pudesse ter sido intencional, isso ainda estariam por descobrir e da pior forma possível.

 

- Como ela está Anne? – Chris não estava efetivamente preocupado, tinham tudo o que poderiam precisar para assistir qualquer tripulante a bordo e inclusive em questões de gestação, Rebecca tinha previsto essa possibilidade acontecer durante a viagem da missão de resgate para Saturno. Em sua correta percepção seria bem possível que alguém da tripulação tivesse um envolvimento afetivo e pudesse dar frutos, ainda que não tenha acontecido dessa forma, tudo estava quantificado.

 

- Ela vai ficar bem! – respondeu para o marido – mas não consigo vê-la como a pessoa adulta que é, afinal tem a mesma idade que nós, só está num corpo de menina ainda! – sorriu enquanto o beijava.

 

- Ela não é como nós e jamais voltará a ser, ela tem a idade que aparenta, assim como nós, apenas isso! – Chris sentia certo remorso por não poder acompanhá-la nessa questão de idade, sentia-se como se pudesse ser pai dela, no mínimo um irmão mais velho, bem mais velho.

 

- Vai dar tudo certo meu amor, confie no Destino... – Anne rezava em silêncio para que Deus soubesse o que estava fazendo em suas vidas. Deitou-se para dormir, amanhã seria outro dia com certeza. – Boa Noite meu amor! – abraçou-o com carinho e esperou ser abraçada, o que não demorou. Sentiu que mais uma vez estaria protegida nos braços do homem que sempre amara desde a primeira vez que o vira ainda em Swords, na Irlanda.

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