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Volúbilis Colónia

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Volúbilis Colónia - Capítulo I - As Muralhas de Volubilis - 175 d.C. Volubilis Colónia continuava sendo a cidade fora das fronteiras mais promissora das possessões romanas do Norte de África. A instabilidade do local pela crescente incursão dos berberes na intenção de retomar a cidade para seus domínios, colocava em risco o avanço da expansão do império. Marco Aurélio Antonino imperador de toda a Roma, nascido Marcus Annius Catilius Severus, sentia que o peso e a responsabilidade que sua vida havia tomado se esvaía por entre os dedos e a pressão crescente do senado que insistia em demovê-lo desse mesmo poder não cessaria tão cedo.

 

Sua passagem por Volubilis era necessária e obrigatória todas as vezes em que visitava os territórios grande África, seus antecessores não tinham medido esforços para que a expansão dos domínios do império fossem o mais longe possível, inclusive como diziam “até onde os olhos do homem possam alcançar...”

 

Considerava que a cidade lhe pertencia desde sempre, não foi necessário que lhe apontassem o caminho a seguir para chegar nela, simplesmente seguiu a galope em seu cavalo e o restante foi um chamado que até hoje tem dificuldade em compreender, mas sabia que sempre tinha pertencido aquele lugar, ele era Volubilis Colónia e o Império Romano. Não poderia de forma alguma, deixar que Volubilis se desvanecesse nas areias do deserto durante as tempestades que já o tinham açoitado por mais de uma vez, quando fazia as travessias entre a Mauritânia Tingitana e o Egito, era preciso protegê-la a todo o custo. Precisava de um plano eficiente para impedir a invasão berbere, ainda que os cerca de 20 mil habitantes da cidade fossem berberes romanizados e não representassem perigo, no entanto devia impedir que caíssem nas mãos inimigas ou do senado que a esta altura eram a mesma coisa!

 

A posição estratégica da cidade que se erguia do chão escavado por séculos intermináveis mantinha uma identidade única, de onde estava Marco Aurélio podia perceber as grandes colunas que elevavam os prédios públicos romanos, admirava principalmente o Arco do Triunfo que servi como portão principal de entrada.

 

O calçamento contribuía para dar um ar de civilização àquele lugar inóspito, ainda que a planície onde se encontrava fosse bastante verdejante e própria para o plantio. Em outros tempos, quando era mais jovem, poderia ter facilmente transformado Volubilis na capital de todo o Norte de África conquistado.As recentes hostilizações berberes que se avizinhavam, e que cada vez mais somavam outros povos inimigos comuns de Roma não deveriam ser desprezados, era necessário um plano de contingência ou haveria perigo para os territórios adjacentes da Ibéria.

 

A fortificação era urgente e as extensões consideráveis, mas para isso existiam os engenheiros e arquitetos construtores de sonhos para o imperador, e Roma possuía os melhores que o mundo já havia visto até aquela data.Sem muita demora, Marco Aurélio Antonino convocou aqueles que considerava que seriam os mais apropriados dentre os grandes engenheiros e em menos de um mês estariam perante o imperador que lhes exporia o problema a ser resolvido. Defender Volubilis a Joia do império na África.

 

- Meus amigos patrícios de Roma, agradeço-lhes por terem atendido tão prontamente ao meu pedido, mas o assunto que lhes trago é de vital importância para que o império persista neste lugar e em outros que defendemos com nossas tropas aqui estacionadas da Cavalaria Gaulesa, as cortes Ibéricas e Belgas – Marco Aurélio fez uma pausa enquanto olhava os rostos dos recém chegados que segundo suas intenções estariam dispostos a moverem montanhas para agradar a César.

 

– Portanto, precisamos de uma solução para ontem! – Antonino olhava-os com a autoridade que possuía e seus vassalos entendiam que não se tratava de um pedido e sim de uma ordem do imperador, assim como a convocação ante sua presença, ainda que seu acolhimento tenha sido amistoso em tempo integral.

 

- Ave César! – Adiantou-se Theodotus Vero o arquiteto chefe – o problema que nos põe é de difícil cumprimento, mas não impossível. Fizemos um estudo antecipado do perímetro e chegamos à conclusão que a melhor solução para conter a invasão berbere será construir uma muralha de proteção em volta da cidade – Marco Aurélio ergueu a mão como para que este parasse a interlocução.

 

- Theodotus Vero, meu grande amigo e por quem tenho apreço! – César considerava que aquele dentre todos seria o único que poderia satisfazê-lo em suas ambições - não desejo apenas conter os que estão do lado de fora, preciso dar proteção e segurança a toda Volubilis Colónia neste século e nos próximos que estão por vir. O império Romano na África tem que perdurar para que sobreviva por mais mil anos! – assentou firmemente.

 

- Sim meu César! E temos um plano junto ás muralhas de estabelecer um anel de cinco fortificações repelir qualquer tentativa de invasão por parte dos berberes selvagens – falava com muita convicção Theodotus que era considerado na atualidade o melhor engenheiro de campo em Roma.

 

César aproximava-se mais para poder olhar a confiança que aqueles homens poderiam lhe passar apenas olhando em seus olhos, parecia satisfeito em ver que em nenhum momento algum deles fez questão de desviar a atenção do assunto. Isso era bom, mostravam respeito, compromisso e atitude. Admirava isso em seus homens, era considerado àquela altura um dos cinco melhores imperadores que Roma já tivera e ainda que as guerras orientais com os Partas e os germanos ao Norte lhe tivessem consumido anos de vida, permanecia com a popularidade alta entre o povo.

 

Sua vertente filosófica lhe tinha ajudado bastante na sequencia do seu reinado como imperador, afinal tinha assumido o trono de Roma aos 17 anos em 138 d.C. através de seu tio Antonino Pio que renunciara a seu favor e que havia sucedido ninguém menos que Adriano o grande imperador.

 

- Em sete dias quero um projeto completo onde possa ver sobre a minha mesa o que pretendem fazer. E lembrem-se que já começamos atrasados! – finalizou e desta forma retirou-se da sala em que se encontrava para percorrer os jardins do palácio que mais pareciam um oásis naquela imensa desértica, mas a seu modo aquilo era o seu oásis de sua alma, somente ali se sentia um homem comum, longe das vistas de todos os que o queriam morto.

 

Não havia tempo a perder e ainda que Marco Aurélio fosse um governante condescendente era também César imperador de todo o Império Romano, isso estava impresso na mente de Theodotus como se fosse a marca de um ferro em brasa na pele de um escravo. Após cinco dias já estava pronto o esboço do que seria o projeto de fortificação de Volubilis Colónia e assim foi apresentado ao imperador.

 

– Aqui César, em volta de todo o perímetro será construído uma muralha com cinco fortes para que possamos proteger os pontos mais vulneráveis – apontava Theodotus para as extremidades cardinais da cidade enquanto César andava em volta da mesa olhando a construção em miniatura.

 

- Ao longo da muralha ainda serão construídas outras 40 torres menores para que exista a possibilidade de enfrentar as hordas invasoras de qualquer dos lados que decidam atacar. Haverá ainda oito portas para que o acesso à cidade seja garantido em qualquer direção e para a grandeza do poder de César um Arco do Triunfo maior na entrada principal complementará o já existente. Com isso meu César, não haverá nenhuma hipótese de Volubilis cair em mãos inimigas em qualquer tempo - Theodotus sorria confiante que o projeto que desenvolvera com seus companheiros era infalível.

 

Se por ventura tivessem como ver o futuro poderiam ter visto que assim o foi pelos cem anos seguintes quando finalmente o império romano colapsou por volta de 280 d.C., mas Volubilis Colónia se manteve incólume e ereta como uma lembrança de poder e persistência humana e só se tornariam ruinas em 1755 por vontade dos deuses que talvez invejassem aquela obra prima de Marco Aurélio Antonino e Theodotus Vero que perdurou por tanto tempo sobre a terra.

 

César estava satisfeito com o que fora apresentado e como tal, sem que olhasse o custo que teria para o império, fosse ele por dinheiro ou em esforços humanos desta forma mandou executar a obra:

 

- Theodotus o seu projeto precisa estar concluído antes que uma nova horda berbere se levante, temos as condições a nosso favor, mas talvez não o tempo, inicie de imediato e me mantenha informado mesmo na minha ausência da cidade. Tenho dito! – César evadiu-se da sala sem esperar uma resposta, pois nenhuma lhe poderia ser dada que não fosse a de que a tarefa seria cumprida no prazo determinado.

 

Theodotus e seus arquitetos deixaram o recinto e foram tomar as medidas necessárias e os esforços para que a grande muralha de Volubilis fosse erguida. Nas duas primeiras semanas seguintes á convocação de César ao longo de toda a parte externa da cidade foram feitas medições usando o Actus que equivalia a aproximadamente 35,5m, as 40 torres junto com as cinco fortificações distariam umas das outras cerca de 50m o que deixaria um espaço quase intransponível sobre a muralha e o invasor poderia ser combatido de dois pontos de apoio diferentes. Era quase inexpugnável por qualquer força de ocupação, mas sempre existiria uma possibilidade isso era fato...

 

As estacas de marcação que mediam uma Pertica (2,96m) eram colocadas ao longo do caminho, buracos eram escavados na areia escaldante das planícies desérticas, precisavam estar fincadas bem fundo para que o vento não as derrubasse e pudessem ter uma visão total do que pretendiam fazer. Era um trabalho árduo, mas alguém precisava fazê-lo e para isso os trabalhadores romanos revezavam-se com os escravos núbios na retirada da areia escaldante. Na terceira semana já sabiam o que seria necessário para erguer as fortificações e as muralhas, por estas últimas que começariam, mesmo que levassem mais tempo por causa da extensão, as fortificações e torres teriam a sua utilidade, depois incorporadas aos muros ficava também mais fácil de fazerem os acabamentos.

 

Ao longo daquele ano e metade do outro e na medida em que o arrimo dos muros avançava, iniciaram a construção das duas primeiras fortificações, de cinco, que mais tarde seriam conhecidas como Aïn Schkor e Bled el Gaada. Na continuação desse mesmo ano e no seguinte ainda não tinham chegado ao final da conclusão do trabalho de engenharia, mas iniciaram uma terceira fortificação que seria Sidi Moussa. Ao final de dois anos e meio e com um árduo trabalho e muitas perdas humanas já haviam conseguido terminar as três primeiras fortificações.

 

Ao mesmo tempo outros grupos de trabalhadores cada um supervisionado por um arquiteto construíam as torres, um grupo em cada lado da cidade para que tudo fechasse ao mesmo tempo. Cerca de trinta torres já estavam prontas e defendendo a cidade. “isso era maravilhoso!” pensava Theodotus Vero.Marco Aurélio Antonino não tinha intenção de perder Volubilis de maneira nenhuma, por esse motivo enviou tropas para os primeiros fortes. Em Aïn Schkor estavam estacionados o Ibéricos e os Belgas, Bled el Gaada ficaria aos cuidados da legião romana local e Sidi Moussa recebeu os Partos que desta forma já forneciam a primeira proteção imediata da cidade.

 

No ano seguinte os trabalhadores de Theodotus erigiram Sidi Said que ficou a cargo da IV Cavalaria Gaulesa e em paralelo iniciaram a construção da última fortificação chamada Tocolósida, que mais tarde seria conhecida por Bled Takurart na língua berbere. Ali ficariam estacionadas algumas guarnições da cavalaria Gaulesa e Síria. Foi durante esta última construção que algo surpreendeu os hábeis construtores de Roma e desse modo decidiram paralisar todo o trabalho até que se esclarecesse aquele achado inusitado. Theodotus se apressou em escrever para Marco Aurélio Antonino, porém mal sabia naquele momento que jamais a enviaria ás mãos de César muito menos que destino aquela mensagem teria no presente e no futuro.

 

Estava destinada a viajar por incontáveis séculos nas mãos de muitos sem o saber. “Eu sou Theodotus Vero engenheiro chefe das obras de César e ficou sob minha responsabilidade a execução da fortificação de Volubilis Colónia a joia do império romano na Mauritânia, a mais rica dentre todas as “pequenas”, desde que Plínio o Velho havia passado por aquele lugar árido e desértico, mas ao mesmo tempo deslumbrante. Posso afirmar perante Júpiter que o que vou contar agora é a mais pura verdade e da forma como realmente aconteceu. Em 179 do ano do Imperador Marco Aurélio Antonino que sucedeu Antonio Pio, já havíamos iniciado a escavação para fazer a fundação da última fortificação que se chamaria Tocolósida, era uma área profunda que media um Actus Minimus (42m²) para fixar as pedras dos alicerces e assim atingimos a profundidade de duas Perticas (6,0m) e os escavadores pararam quando as pás bateram numa construção de metal como nunca antes havia sido vista, muito lisa, finamente polida de cor rosada e reluzente á luz do dia.

 

Assim que removemos a areia da superfície a grande pedra mostrou-se sendo a tampa de uma construção com aparência bastante antiga, olhando mais atentamente pudemos distinguir o formato do que aprecia ser de uma pirâmide muito semelhante àquelas que encontramos nas terras do Egito, nos tempos do faraó Ptolomeu XV, o último faraó Filho de Cleópatra VII e de Ptolomeu XIV seu antecessor.Mas certamente trata-se de uma construção muito mais antiga, e havia várias inscrições que a maior parte não reconheci, mas uma dentre elas me era familiar por ser Rá, deus Sol, e criador do mundo para o povo egípcio.

 

Questionei-me se seria possível aquela ser a tumba do Deus Rá, o Criador de todas as coisas e sepultado tão longe de casa, mas não tínhamos como saber, faltava-nos o conhecimento necessário para decifrar este enigma. Deveria haver outra explicação, mas seria necessário que chamássemos um especialista no assunto de decifrar a escrita antiga para entender do que se tratava aquela imensa construção tão bem lavrada polida, enterrado tão profundamente no meio do nada.

 

Por esse motivo meu César peço a sua presença a Volubilis Colónia para que nos diga como devemos proceder na conclusão do trabalho, penso que a presença de seu escriba pessoal seja necessária para a devida interpretação dos sinais encontrados. Theodotus Vero Engenheiro de Roma a serviço do imperador Marco Aurélio Antonino no ano de 179.”

 

Levaria ao menos seis meses para que Marco Aurélio Antonino chegasse a Volubilis e com ele traria seu escriba egípcio que sempre o acompanhava nas viagens, Nkrumsh, o nono nascido, aprendera a escrever e contabilizar em Mênfis, mas tinha se destacado com sua versatilidade de apontamentos no mercado Khan el Khalili na cidade do Cairo até que Marco Aurélio necessitando dos recursos de um escriba acabou por incorpora-lo ao seu séquito passando a ser seu predileto.

 

Era um homem com aproximadamente 50 anos, levemente curvado e fazia questão de usar suas roupas de origem, gostava que soubessem de onde tinha vindo e que o fato do Egito estar sob o domínio de Roma, não o tornava escravo, muito menos romano. César por sua vez apreciava ter o controle absoluto sobre todas as coisas, domínios e pessoas, nada lhe escapava, mas não havia do que se queixar, tanto o povo que o admirava por suas qualidade, como as tropas romanas que o mantinham no poder e viam em César o símbolo máximo do império de Roma apreciavam a sua gestão.

 

Theodotus segurou a carta que seria enviada pelo estafeta para o imperador durante mais um dia, não queria que acabasse por cair em mãos erradas, se fosse um achado que remontasse ao povo do Egito poderia haver uma desestabilização do império naquela região e fazer insurgir uma revolta daquele povo também, poderiam ver a construção e escavação como uma profanação aos seus costumes e mortos. Muitos matariam para lerem a mensagem, estava mais segura com ele por enquanto do que com qualquer outro, em tempo e com segurança a enviaria para César.

 

Mas essa mensagem jamais chegou nas mãos de Marco Aurélio Antonino.O engenheiro estabeleceu uma guarda permanente no local do que considerou ser a sepultura de do Deus Rá dos egípcios. E assim se passaram os meses sem que a mensagem saísse de sua posse.O Regresso de CésarMarco Aurélio Antonino demorou mais do que era esperado e por esse motivo a torre fortaleza de Tocolósida a quinta e última que fecharia o perímetro de fortificação de Volubilis tinha sido adiada.

 

Não cabia a Theodotus Vero a decisão de encerrar novamente a construção recém-descoberta sob as areias do deserto e pior resultado seria se assim o fizesse e que depois de ter terminado a fortaleza a tivesse que demolir por qualquer motivo que fosse. Também não cabia a Theodotus esconder tal achado, até porque a esta altura parecia impossível de fazê-lo, era assunto recorrente em todas as rodas de fogueira ou de patrulha sobre as muralhas. Alguns soldados e mercenários mais afoitos já tinham investido contra a tumba sem sucesso, tal era a enormidade do peso sobre ela, mas a possibilidade de poder conter tesouros dignos de um rei e a cada dia que passava mais inquietude se instalava em Volubilis.

 

Graças aos deuses César acabara de chegar para apaziguar os ânimos, só a sua presença seria o suficiente para por fim aos sonhos de riqueza e poder que poderiam estar ali enterrados.Mas ainda não foi no dia da chegada de Marco Aurélio que se deu inicio a qualquer tipo de escavação, a audiência com César seria no dia seguinte, pois a viagem tinha sido cansativa e nada do que pudesse ser dito, independente do atraso das obras, faria com que recebesse Theodotus.

 

O centurião aguardava do lado de fora do alojamento onde ficavam os operários que trabalhavam na construção da grande muralha e Theodotus Vero fazia questão de permanecer ao lado dos trabalhadores que estavam a seu encargo não só para mostrar que faziam parte do mesmo ambiente de trabalho, mas também para se manter melhor informado sobre a moral dos homens e especialmente sobre a real intenção dos mercenários quanto ao tumulo recém descoberto.

 

A pedido de César haveria uma audiência sobre o andamento da obra de construção dos muros ao redor da cidade, provavelmente não teria a complacência de César por não ter terminado a empreitada dentro do prazo estabelecido, pouca coisa ou nada havia se interposto entre o início da construção e sua conclusão até que encontraram a tumba. Mas contava que o achado falaria por si só e o redimiria desse atraso, caso contrário, ainda que a prática tivesse sido abandonada, poderia ser “jogado aos leões!”, claro que era uma ideia completamente insana para aqueles tempos, ainda que não muito distante na história fosse a prática comum, mas o que o preocupava mesmo era perder o prestigio que possuía junto ao imperador e ser relegado a um posto inferior ou enviado para algum lugar distante e de menor relevância onde acabasse por morrer no ostracismo de sua profissão.

 

Apressou-se em pegar os relatórios em pergaminhos onde fazia a cronologia das obras e que enviava regularmente pelos estafetas para a central romana na capital, com exceção das duas últimas onde constava a grande descoberta milenar, pelo menos assim acreditava que fosse, tão antiga quanto o tempo, mas que tinha atrasado propositalmente o envio destes últimos por considerar que a conclusão da obra poderia ser colocada em risco caso a informação caísse em mãos erradas, e para isso o senado romano estava mais do que habilitado, muitos esperavam penas uma oportunidade para dar o passo seguinte para derrubar o imperador.

 

- Ave César! – Saudou com a mão estendia o melhor estilo romano, como mandava o protocolo. Marco Aurélio estava sentado no seu trono que fora colocado na entrada principal do palácio à cerca de dois anos quando Volubilis havia sido elevada á condição de município romano, estava muito mais velho do que me lembrava desde a última vez que o vira. Uma profunda cicatriz que não direita mostrava que havia participado de combate nesse período, não era incomum imperadores comandarem suas tropas para as batalhas, mas que seus soldados pretorianos permitissem que a morte chegasse tão perto de César.

 

- Ave Theodotus! Arquiteto do imperador e construtor das muralhes de Volubilis! – Disse César levantando-se e aproximando-se de Theodotus com uma intimidade maior do que a normalmente utilizava em público. – As batalhas na Europa tem me consumido anos de vida meu amigo, e fico muito feliz de poder ver um rosto amigo que não me deseje a morte! – Concluíu César olhando o amigo que já não via há mais de um ano.

 

Aproveitando que caminhavam sozinhos para o grande átrio que proporcionava uma vista indevassável de toda a cidade Theodotus lhe disse: - Lamento que continue tendo tantos problemas César, esse é o preço que se paga por possuir o poder que tantos almejam. – Assentiu sacudindo levemente os pergaminhos entre as mãos. – Aqui as coisas também não saíram como previsto conforme, pode ver olhando para a direita, a última fortaleza não foi erguida... – Hesitou esperando a desaprovação que certamente viria, mas ainda contava com a descoberta como trunfo para cair novamente nas boas graças do imperador.

 

- E que motivos seriam mais importantes para que a obra não fosse concluída do que a vontade de seu imperador, Theodotus? – Olhou admirado para a abertura no muro onde deveria estar a fortaleza Tocolósida.

 

– Não lhe faltou recursos financeiros, não tivemos sinais de confrontos com os berberes desde que fizemos a muralha, portanto, imagino que tenha uma boa razão para justificar esse atraso. – Concluiu César esperando uma resposta.

 

- Sim César, durante as escavações para fazermos os alicerces de pedra que elevariam as paredes da fortaleza quando a uma profundidade de duas Perticas encontramos uma construção que não sabemos como foi parar ali, nem quem a construiu. Imaginei que seria de seu interesse César que aguardasse para continuar a obra. – Fez uma pausa.

 

– O lugar tem sido guardado desde então pela Cavalaria Gaulesa fazendo revezamento com a Cavalaria Síria. – Finalizou com certa apreensão.Marco Aurélio andava de um lado para o outro com ar pensativo, nada ao que parecia poderia ser tão importante naquela terra árida, desértica e esquecida pelos Deuses que lhe remetesse a qualquer história já ouvida ou contada sobre “achados” durante outras obras por toda a África romana.

 

– Muito bem Theodotus, despertou meu interesse, vamos lá ver esse seu achado tão importante que impediu que a ordem de César fosse obedecida! Espero que valha a pena ou você estará em sérios problemas, mesmo com a consideração que tenho por você e seu trabalho, as ordens que dou são para serem obedecidas! – Concluiu andando em direção á saída que levava ao caminho que conduzia ao local indicado e por terminar.

 

Uma biga o aguardava já pronta, era sua intenção vistoriar as obras e percorrer as ruas da cidade para que o povo visse seu imperador em pessoa e o reverenciasse.

 

- Sugiro que leve seu escriba Nkrumsh das terras dos Egito, César, creio que nos será de muita utilidade! – Theodotus apressou-se em convocar o escriba que certamente tinha vindo com o imperador na viagem.- Como queira Theodotus, direi ao pretoriano que chame Nkrumsh e que nos siga a uma distância segura. – E com isso Marco Aurélio Antonino desceu as escadarias do palácio e subiu na biga seguido por Theodotus que fez questão de ficar ao lado do imperador.

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