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ARCADAMIUS

RECONQUISTA

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Capítulo I

 

Retorno a Malahide

 

Passara-se um ano completo desde que os Sinos extraterrestres que armazenavam no interior os Casulos contendo a humanidade capturada num único dia haviam pousado sobre a superfície perdendo a sustentação gravitacional em órbita da Terra. Chris Raines ainda tinha esperança que Riley O’Connor estivesse em algum deles espalhados pelo globo e que pudesse ter “caído” em algum lugar remoto do planeta, porém com tão longa espera isso já parecia impossível.

 

Continuou seguindo as ordens de sua comandante ainda que ausente, não deixaria que o Mundo Novo, pós Apocalíptico, se tornasse uma selva maior do que já tinha ficado por conta da ausência imediata de civilização. Os capturados que saíam dos Sinos tiveram muita dificuldade em compreender o acontecido e mesmo tendo-lhes dito que deviam suas vidas a Riley O’Connor, não acreditaram que uma menina tão jovem pudesse conseguir um feito tão grandioso.

 

Ele e sua Alcatéia, passaram a chamar o grupo ao qual pertencia dessa forma, depois que perceberam que só poderiam contar com eles mesmos e seu histórico de bravura, continuavam unidos como nos primeiros dias tão difíceis e que agora pareciam apenas uma lembrança de um mundo já esquecido.

 

Fizeram planos de trilhar um caminho inverso ao que tinham seguido para chegar a Dublin, já que aparentemente os objetos alienígenas tinham um sistema de posicionamento global, era de se supor que pousariam exatamente nos locais onde fizeram a captura dos humanos. Dessa forma esperavam encontrar os familiares desaparecidos, cientes que dois terços dos Sinos tinham se evadido da atmosfera e possivelmente regressado para a Nave Mãe, mas isso era só uma suposição aceitável e caso fosse verdadeira. O caminho para Malahide seria longo e tortuoso de lembranças de outros tempos.

 

A cadeia de comando continuaria da mesma forma que ele havia definido no inicio, Robert Parks o segundo em comando e Sônia Lemann formaram um casal logo que ele pousou em terra saindo do estranho objeto e com notícias tão vagas sobre Riley e Sam; “– Riley disse que ficaria bem e que sempre o amaria Chris...” – tinha recebido o recado dela nas palavras de Robert e Sônia que presenciara todo o esforço feito pelos amigos recentes, deixando para trás amores latentes e sacrifícios impossíveis, rendeu-se àquilo que a humanidade tinha de melhor, o amor verdadeiro. Em sua opinião isso seria motivo suficiente para valer a pena a vida ser vivida.

 

Foram designados para ficar em Dublin em uma posição estratégica de recrutamento de outros que pudessem servir á causa, que agora não era apenas um problema irlandês, mas global e tomaria proporções infinitas se o comandante levasse adiante o plano de resgatar Riley O’Connor e Sam Thorne da Nave Mãe que estaria em algum lugar ainda no Sistema Solar a caminho do planeta invasor.

Dispersar o grupo era um método de não serem capturados caso houvesse uma nova investida de abdução, por outro lado os governos da Nova Ordem viam os grupos independentes como sendo uma ameaça ao seu poder de controle de massas e imposição da Lei Marcial agora vigente.

 

Tommy Mulligan tinha se tornado um soldado exemplar em apenas um ano, nada lhe escapava ao olhar, nem mesmo os atributos da bela Rebecca Thompson, que havia se recuperado totalmente e não mais seria uma vítima dos “vampiros” que drenaram seu sangue para que vivessem. Tinha a seu lado agora o melhor guerreiro de todos entre os que haviam iniciado a Alcatéia e mesmo que a diferença de idade entre eles fosse pequena e invertida, ela sendo mais com três anos a mais, tinha se tornado um homem antes do tempo. Era o mesmo caso de Robert e Sônia, aparentemente o mundo estava realmente muito mudado. Lucan seria seu ponto base em dois quartos do caminho.

 

Bobby Flanngan e Lionel O’Malley tornaram-se os melhores amigos, nesse aspecto a proximidade etária os tinha ajudado e providenciado um empurrão para que os dois formassem a melhor dupla de vigilância que poderia existir em qualquer tempo, chegaram a criar um código específico de comunicação entre eles que muito dificilmente outros perceberiam.

 

Dessa forma as noites acabaram por ficar mais tranquilas e menos pavorosas todas as vezes em que alguém se aproximava, e eram muitos os “desgarrados” que procuravam se juntar a grupos que combatiam os invasores, mesmo que jamais tenha havido qualquer batalha nesse sentido. Sua designação estaria em Blanchardstown, três quartos do caminho para Malahide.

 

Ele, Chris Raines, como sendo o comandante devidamente nomeado pela comandante supremo agora desaparecida junto com seu protetor e amigo em batalha, seguiria para o lugar de onde viera e onde tinha nascido. Imaginou por alguns instantes se seria prudente voltar para casa e onde tinha tantas lembranças de sua amada Riley, mas não tinha como fugir do destino e era bem provável que os pais dela tivessem voltado já há muito tempo e até ao momento não teriam recebido notícias da filha.

 

Não obtiveram muito sucesso em descrever para o novo governo estabelecido na Irlanda que tinham feito resistência contra a invasão Alien e que todos os que haviam sido resgatados deviam suas vidas ao esforço que eles fizeram e dos que ainda continuavam desaparecidos. Ainda que não acreditassem no ocorrido, não souberam explicar por qual motivo a informação recebida de que somente os AB- Negativos, também conhecidos como Invisíveis não tinham sido capturados. Mas isso seria outra história e bastante longa para contar mas aconteceria invariavelmente em algum tempo que fosse necessário.

 

A seu lado estavam Anne Ridley com quem vinha mantendo um relacionamento amoroso assim que perceberam que Riley não voltaria para casa. Anne estava cumprindo exatamente o acordo que fizera cuidando agora de seu amado Chris que outrora não lhe pertencia por direito, mas quis o destino que as coisas entre eles fluíssem de uma forma jamais vista.

 

Havia um misto de amor e compaixão, ambos precisavam um do outro para esquecerem o passado e o que havia começado com um esforço de tolerância, acabou por se tornar paixão repentina e posteriormente um amor calmo e sereno. Não passava um dia sequer em que não pensassem no que e quem tinha ficado para trás, mas também não faziam mais disso a razão de viverem.

 

Adotaram Samantha Thorne que tinha ficado sob a responsabilidade de Anne a pedido de última hora de seu irmão antes de desaparecer levado pelo funesto raio azul turquesa. Samantha compreendeu que o sacrífico dele tinha sido necessário e que um dia voltaria, afinal como Anne mesma tinha dito, Sam a amava mais do que tudo na Terra e não a deixaria para trás sob hipótese nenhuma, mas no momento estava numa missão muito importante e secreta para descobrir onde os invasores moravam.

 

Ela saberia esperar o tempo que fosse necessário, afinal só tinha a ele de familiar vivo, além de Rex o Ladrador claro, mas este só estava sob seus cuidados a pedido de Riley a comandante e assim que ela chegasse o devolveria. Mas sentiria falta de seu pelo macio e do latido forte, sem falar dos pés aquecidos durante a noite sobre os quais sempre dormia.

 

- O plano é o seguinte! – Chris reunira todo o grupo principal e lhes mostraria a estratégia que tentaria colocar em prática nos próximos meses. – Vamos chamar de Phoenix! Assim como a mítica ave que ressuscitava das cinzas, nós vamos resgatar os nossos e provar para o mundo que somos mais capazes do que querem nos fazer parecer! – falava com a firmeza que aprendera de forma árdua e sofrida. – Alguma dúvida?

 

- O que vamos fazer exatamente comandante? – Bobby que não perdera o habito de levantar a mão foi o primeiro a inquirir seu chefe no novo intento.

 

- O que vou dizer aqui e agora não poderá sair desta sala! Se eu descobrir alguém que tenha dado com “a língua nos dentes” eu mesmo me encarrego de dar fim à sua vida! – olhou firmemente para cada um dos presentes – estamos entendidos? – esperou uma resposta imediata como era seu costume.

 

- Entendido comandante! – ouviu em uníssono.

 

- A primeira coisa que precisamos fazer é estabelecer a cadeia de comando ao modo dos antigos e para isso cada um de vocês precisará ter sob seu comando direto doze soldados, esses soldados deverão recrutar outros doze cada um e assim exponencialmente! – fez uma pausa para ver se todos compreendiam.

 

- Uma coisa importante! Vocês serão responsáveis apenas pelos doze que recrutarem diretamente, não existe meio de se controlar grandes pelotões se tivermos que resolver os problemas dos recrutas na base da pirâmide, portanto, essa regra se perpetua pelos demais! – sabia que sua estratégia funcionaria muito bem desta forma, já a tinha testado em sua mente meses a fio.

 

- Isso é como uma escada não é comandante? – Tommy que sempre fora muito esperto tinha captado a mensagem como rapidez, poderiam ter milhares de soldados divididos em células de doze mais um, que seria o comandante de grupo e quando precisassem se reunir para as intervenções que se fizessem necessárias.

 

- Sim! Eu sou o topo da pirâmide, vocês estão logo abaixo de mim e o restante virá sem muito esforço! – estava satisfeito que alguém estivesse entendendo o que propunha.

 

- Isso será a Primeira Fase! Como somos proibidos de fazer grandes reuniões por causa da Lei Marcial, assim conseguiremos nos organizar para a Segunda Fase! – que ele não tinha intenção de explicar no momento.

 

- E como faremos para que sejamos identificados entre nós comandante? – foi a vez de Robert se manifestar.

 

- Faremos isso com um aperto de mão que parecerá simples, mas que nos identificará! – chegou perto dele e estendeu-lhe a mão com os dedos separados ao meio, o indicador com o dedo médio unidos assim como o anelar com o dedo mínimo. – Faça exatamente como eu e encaixe sua mão na minha, verá que caberá perfeitamente! – isso finalizava sua explicação.

 

- Isso é muito bom! Funcionou perfeitamente! – Robert estava admirado por Chris ser tão engenhoso em assuntos estratégicos, em algum momento poderia se tornar um líder respeitado por toda a Irlanda senão por todo o planeta, só precisava de uma oportunidade para provar seu valor.

 

- Amanhã partiremos e nos distribuiremos conforme o plano que traçamos! Estarei em Malahide nesse período em que recrutamos e nos preparamos para a Segunda Fase! Mais alguma pergunta? – encerrava em definitivo a reunião na ausência de questionamentos.

 

- Se tiverem sorte, reencontrem quem deixaram para trás enquanto estavam sob o meu comando neste último ano, recuperem o tempo perdido, mas não se esqueçam de que temos uma missão! – Ele mesmo queria rever o lugar onde morava em Seapark e com um pouco de sorte seus pais também. Virou-se para Anne que adorava ouvi-lo falar e seguiram para os aposentos que tinham dividido nesse período em que estavam juntos numa residência requisitada por eles depois que precisaram desocupar o Hotel Dublin. Suas lembranças mais intimas ainda estavam no quarto que ficava no segundo andar...

 

A caminhada para Malahide não seria menos difícil do que a que tinham feito anteriormente, no inicio da jornada. O apagão tecnológico permanecia como sendo uma realidade assustadora, os pulsos eletromagnéticos sucessivos tinham penetrado bem fundo no planeta e danificado permanentemente todos os tipos de dispositivos, fossem eles móveis ou não.

 

O governo estabelecido preocupava-se em desobstruir e reciclar todo o material que agora impedia que as vias tivessem livre circulação. Apenas os militares oficiais usavam transportes alternativos e que não dependessem de qualquer tipo de circuitos elétricos ou eletrônicos. Aos poucos a Alcatéia foi se repartindo e ocupando os lugares designados por seu comandante, estafetas que fariam a ligação a pé ou de bicicleta entre eles se encarregariam de manter a comunicação funcionando.

 

O último lugar em que chegaram seria também o mais difícil, pelo menos para Chris Raines. Não muito ao longe podia divisar as casas e ruas do Seapark, muito em breve estaria entrando em sua casa e onde tinha vivido na companhia dos pais. Esperava que não tivesse sido ocupada por uma nova “família”, referiam-se assim aos novos grupos familiares que o governo recompunha pela vasta quantidade de pessoas que perderam seus entes queridos. Dessa forma, também eram mais fáceis de serem quantificados, qualificados e controlados há distância. Eram outros tempos agora e muito difíceis.

 

Aproximou-se com cuidado, ainda portava seu rifle Remington 700, tinha sido uma concessão especial ao seu grupo por serviços prestados na formação da Nova Ordem, ainda que ele não aprovasse as diretrizes de desarmamento, mas achou melhor não questioná-las de momento, estava em suas mãos apontando para a porta da frente. Anne a seu lado dava-lhe cobertura com a Glock 380 que mais de uma vez já a salvara e que ela aprendera a usá-la como se fosse parte de seu corpo.

 

Ainda que talvez não precisasse puxou um molho de chaves do bolso e enfiou uma na porta que torceu e ouviu o barulho de que estava destravada, o acesso ao seu interior agora era livre. Foi o primeiro a entrar, Samantha e Rex estavam do lado de fora e Anne na varanda encostada á parede da casa. Depois de alguns minutos voltou com o rifle abaixado e mesmo que não estivesse sorrindo demonstrava contentamento em estar finalmente em casa.

 

- Venham, entrem para que possam ficar mais há vontade! – abriu a porta totalmente para que entrassem. – De hoje em diante esta será a nossa casa! – deixou-se cair no sofá da sala.

 

- Acha que seus pais estiveram aqui? – Anne foi a primeira a tocar-lhe a ferida ainda aberta e fazê-la sangrar.

 

- Não, não estiveram... – pegou na mão da mulher que lhe era tão preciosa agora e beijou-a em sinal de respeito e de dívida.

 

- Como pode ter tanta certeza, Chris? – ela ainda considerava que poderiam ter ficado ali por breves momentos e assim como o amado ao seu lado e que tão carinhosamente lhe beijava a mão, estariam á procura do filho desaparecido. Afinal era razoável supor que tivesse sido capturado também.

 

- Simples! Está tudo como deixei da última vez! Ninguém passou por aqui neste ano inteiro que fiquei fora. - Rex saiu em disparada para a rua.

 

- Bem, e que tal me mostrar sua casa! Nossa casa agora até precisarmos sair! – Anne sorria pela primeira vez por ter uma família como sempre sonhara, até a pequena Samantha se encaixava nesse imenso quebra cabeças como uma peça única e agregadora. Por causa dela tinham sido mais felizes enquanto estavam juntos.

 

- Onde está Samantha? – ela percebeu que sua distração repentina talvez lhe custasse caro, ainda viviam num mundo cruel e nem todos da raça humana mereciam ter sobrevivido, isso ela tinha a certeza. Saíram para a rua no mesmo momento em que alguém chamou por seu namorado.

 

- Chris! Chris Raines! – ele olhou para o lugar de onde partiam os gritos á sua procura e pronunciando seu nome em alto e bom som. Um homem estava segurando a coleira de Rex e a mão da pequena e frágil Samantha.

 

- Senhor O’Connor! – Chris abriu um largo sorriso ao ver um rosto conhecido desde a infância e depois de tanto tempo. Nora O’Connor afastou-se do marido e corria agora em sua direção. Tinha esquecido totalmente que essa possibilidade pudesse vir a acontecer, esteve tão absorvido pelos próprios problemas que ao encontrar os pais de Riley não lhe passou pela mente em momento nenhum que certamente estivessem esperando notícias da filha. Caberia a ele contar-lhes a verdade.

 

- Que bom vê-lo meu rapaz! – Brian O’Connor abraçou-o como se fosse um filho querido que não via há muito tempo. – Riley está com você? – sabia que estavam juntos quando da última vez que os tinham visto. Nora passou por ele ainda correndo em direção á jovem mulher que saíra da casa dos Raines, mas na medida em que se aproximava seu passo diminuía até que se deixou cair de joelhos ao perceber que não era sua filha. Anne aproximou-se para confortá-la.

 

- Acho que precisamos conversar senhor O’Connor... – caminhou para ajudar Anne com a mãe de seu amor perdido. – É uma história muito longa de amor e ódio, coragem e perseverança e sua filha Riley é a protagonista dessa história! – Chris falava sério e com a competência de um narrador que não só vivera todos os momentos ao seu lado, como também fora coadjuvante.

 

Sentaram-se na sala da casa dos O’Connor, Rex foi-se deitar no tapete ao centro onde sempre costumava ficar fazendo companhia para sua dona. Samantha estava ansiosa para ouvir a história que Chris e Anne contariam novamente, já a tinha ouvido dezenas de vezes, mas não se cansava, porque ela mesma fazia questão de lembrar pequenos detalhes que passavam despercebidos, como a vez em que ela salvou Samuel, seu irmão, de ser levado pelos Scanners deitando-se em cima dele.

 

Fazia questão de lembrar dessa parte, Riley tinha salvo a pessoa que ela mais amava no mundo e que era a única de sua família que lhe restara. Chris, não gostava muito de contar essa parte por motivos óbvios e pessoais, mas a pequena Samantha se encarregaria de lembrá-lo pelo resto da vida.

 

- Depois que acordámos e não vimos mais ninguém... – Chris começou sua narrativa tentando explicar todo o ocorrido passo a passo, sem omitir nada, talvez não lhes contasse tudo o que tinha acontecido entre os dois, inclusive dentro do provador da loja do Shopping, muito menos no quarto no segundo andar do Hotel Dublin, mas se alguém tinha o direito de saber o que de fato aconteceu eram os pais da figura principal dessa história e salvadora de toda a humanidade reminiscente.

 

A razão de todos estarem ainda ali era Riley O’Connor e claro, Samuel Thorne...

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