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LIVRO EM FORMATO DIGITAL

Publicado 2017

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Para Ben Ajawid Al-Qazar, o Filho do Generoso como significava o seu nome em árabe, homem das ciências, estudar as estrelas era para ele como respirar o ar puro daquele lugar magnífico que se estendia pelo horizonte esverdeado e pelas falésias de arenito, mas não compreendia como as ranhuras em linhas retas e de tons variados podiam assentar em camadas sobrepostas uma a uma como se alguém as tivesse posto cuidadosamente tal qual as folhas de papel na encadernação de um bom livro.

No entanto, era fácil compreender que aquelas linhas contavam uma história sobre o tempo geológico daquela região recém conquistada por seu povo, oriundos do outro lado do Oceano, do Norte da África. Estavam no ano de 850 d. C. do domínio árabe da terra de Al-Gharb Al-Àndalusi, um dos novos territórios desde que Abdul-el-Aziz havia invadido o que restara da Lusitânia Romana. O império dos mil anos e que dominara quase todo o mundo conhecido por séculos, além da arquitetura deixada e da língua falada misturada com o celta da região, não mais se fazia presente. Agora era chegada uma nova Era para todos os que ali vivessem e ele esperava ser o precursor dessa Boa Nova.

Uma Era totalmente direcionada para a cultura e conhecimentos, queria poder ensinar tudo o que sabia. Verter do próprio suor, se necessário, aquilo que por anos a fio fez questão de estudar debruçado sobre a mesa de pergaminhos no interior das tendas por onde passava acompanhando os exércitos do Sultão Yussuf. Nenhuma página sequer tinha ficado em branco ainda que, por vezes, as tenha escrito com o próprio sangue ou mesmo quando as luzes das lâmpadas de azeite minguavam com o passar das horas sem que desse por isso. Em todo o caso, o mais provável seria que fosse aprender mais com as tribos locais do que ao contrário. Estava certo disso, já acontecera antes.

Possuía uma mente aberta e o conhecimento não o assustava, afinal era a única coisa que jamais lhe roubariam. Sentou-se um pouco sobre a pedra quente que despontava como a mais elevada daquele platô e de onde podia observar os grandes barcos islâmicos que chegavam para aportar nas cidades vizinhas, não havia forma nenhuma de não os reconhecer com as velas hasteadas de cores negras-acinzentadas e o alarido da tripulação por ver as Novas Terras de seus senhores.

Se prestasse um pouco mais de atenção e possivelmente virando um pouco a audição na direção de onde estes vinham, quem sabe poderia ouvir as conversas no convés de alguma embarcação, talvez um cântico conhecido. Certamente muitos seriam sobre as lindas mulheres que deixaram para trás em algum lugar esquecido do deserto ou interior de alguma tenda e que lhes havia prometido fidelidade eterna até à volta para casa... Ele mesmo deixara tudo para trás pela sede de conhecimento de um Novo Mundo, uma terra cheia de promessas e oportunidades.

Voltou-se novamente para o que o levara àquele lugar que transpirava misticismo, quase sobrenatural, ainda que como cientista não acreditasse no acaso, mas era primordial para a sua sobrevivência intelectual perceber que havia uma inteligência superior que regia todas as coisas. Para ele, essa entidade superior de força e poder era Allāh, criador de toda a terra onde os homens semeavam as frutas com os mais diferentes sabores e cultivavam os alimentos que tanto podiam ter um gosto adocicado evidenciando que o Paraíso poderia estar bem mais perto do que pensavam, como também de sabores amargos, mostrando existir em algum lugar tudo aquilo que lhes era proibido e este poderia ser o caminho mais fácil para antevê-lo.

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